segunda-feira, maio 30, 2005

O Grito

Livrei-me dos eufemismos inúteis. Agarrei neles, queimei-os na chama do meu desespero e lancei as cinzas pela janela. Porque o mundo é hipócrita demais, não precisa dos meus cuidados linguísticos… mentira! Lancei tudo pela janela por vingança, porque os meus cuidados são inglórios. Quando chega a hora e ter cuidado com os meus sentimentos o mundo esfaqueia-me sem se preocupar com as consequências.
Eu vingo-me em palavras ácidas, palavras ásperas que mostrem o meu descontentamento.
Sim, estou magoada, estou muito magoada, e sei perfeitamente que a culpa não foi só minha, porque mesmo a mais ingénua das criaturas não acreditaria nisso.
Agora chega, não quero saber do que se passa! Quero magoar o mundo com as minhas palavras más, despreocupadas, sem medo, porque o medo deixei-o algures num passado próximo, fechado num quarto escuro, junto com o bicho papão e as inseguranças impostas por uma educação imperfeita.
Tirei a minha vergonha de cima dos ombros, e fiquei muito mais leve, porque amar não é vergonha, mas eu achei que sim… porque não ser amada… é triste, mas também não é vergonha
Agora para ti mundo, o meu grito de libertação










Silêncio, porque não mereces mais que isso.

sexta-feira, maio 27, 2005

Dia-a-dia

Porque é que quando sentimos o coração completamente destruído baixamos as defesas? É que há sempre alguém que descobre uma maneira nova de o partir mais um bocadinho...

quarta-feira, maio 25, 2005

O espantalho e o beija-flor

Sinto-me como um espantalho, ou espantalha se isso existe… feia, sozinha, isolada no meio do nada com o peito exposto ao vento, à espera que tu apareças novamente na pele de um beija-flor irrequieto, sempre cheio de pressa, que me mimes novamente, com os teus gestos doces, suaves. E tu lá apareces, mas mal eu dou sinais de que estou viva, despertada pelo bater impaciente das tuas asas, tu foges apressado como se eu fosse um monstro aterrorizante, e apenas tivesses parado ali para me veres bem de perto.
Sinto-me assim por tua causa, hoje a culpa é tua. As minhas palavras, outrora apaixonadas e meigas, são hoje desesperadas, frias… sós. Cada uma delas foge-me por entre os dedos e isola-se hirta, estática no seu cantinho da folha de papel.
Estúpido sentimento que me faz ficar estúpida, tão estúpida que estou a deixar que este sentimento acabe com a nossa amizade, ainda demasiado imatura para sobreviver a tal tempestade de estupidez.
E por breves momentos as palavras agitam-se inseguras nos seus lugares, porque nada mais faz sentido, estão dispersas nesta folha de papel, mas estão tão confusas como eu, procuram umas nas outras a razão da incoerência…
E a espantalha continua lá, quase que a vejo, e ela sou eu, desperta pelas asas do beija-flor, demasiado cansada para dormir, com a face encharcada de lágrimas salgadas, tão salgadas que rasgam sulcos profundos na pele áspera curtida pelo vento, pelo tempo, pela espera… observa o beija-flor, e o beija-flor és tu, lá longe, a acariciar as flores belas e suaves, a amá-las, a ouvi-las, a contar-lhes a história de como escapou ao horrendo espantalho, que afinal era espantalha, e que sozinha morreu, por não ter nascido flor.
E nada disto faz sentido senão para mim, já comigo, mas eternamente sem ti.

terça-feira, maio 24, 2005

Desesperadamente

Luto desesperadamente contra esta vontade de me isolar, mas nos que me rodeiam não vejo mais que uma indiferença cortês.
Sei que parte da culpa é minha que não procurei, nem procuro aproximar-me. É ridícula a comparação entre o que fui e o que sou, dos meus risos fáceis não vejo mais que uma sombra fugidia quando encontro os amigos mais chegados. Já não sou simpática, nem comunicativa...
Que pensarão eles de mim? Na realidade isso não me preocupa. Não sei o que eu penso de mim, isso sim é grave, raio de dúvidas existenciais, se é que é disso que se trata...
Isolo-me na música que me acompanha sempre, já não é a música melódica de outros tempos, é música violenta, que nunca antes teria pensado em ouvir. Hoje ajuda-me a permanecer acordada, descarregam eles os gritos que eu queria poder dar... ajuda ao meu isolamento, ainda assim é uma companhia.
Queria começar de novo, nascer novamente, e quando tivesse que fazer escolhas acertasse. Talvez então fosse mais feliz.

sábado, maio 14, 2005

O Passado

"Hoje tinha vontade de ser poeta, para que as palavras fluíssem soltas pelo papel à velocidade que me surgem na alma, tenho vontade de voar, de me esconder do mundo para pensar, para crescer, para ser feliz.
Queria dedilhar uma melodia bela, numa guitarra, e com ela mostrar à vida a poesia que não escrevi, mas senti.
Queria ter um papagaio que ondulasse ao sabor do vento e me contasse a história dos lugares longínquos de onde chegou esse vento.
Queria aprender a ouvir aquilo que não me dizes, e dizer-te as palavras certas, mas das palavras certas só conheço o silêncio.
Queria conseguir ensinar-te o meu silêncio, porque assim as palavras seriam sempre as certas, e nada se iria perder no vazio, porque eu e tu saberíamos sempre… em silêncio." 03/04/2003

Há dois anos a ingenuidade levava-me a ter vontades assim.
Hoje queria cumplicidade...

... para o meu coração voltar a bater com força.