domingo, agosto 31, 2014

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Num mundo que parece girar à velocidade da luz, ser sensível é tão pior que ser invisível.
Interpretada como fraqueza, talvez até por mim... ou principalmente por mim, a sensibilidade é o defeito que acaba por me consumir.
À minha volta observo as falsas fragilidades usadas em jogos de sedução. Não consigo ser o que não sou, e não escondo a independência que faz de mim quem sou. Não sinto necessidade de gestos grandiosos, de ajuda, ou de cavalheirismos forçados e banais. Não sou frágil, sou resistente, sou independente e orgulhosa, sou forte e sou feroz. Mas sou humana. Há palavras, olhares e risos que me magoam. Desatenções que dilaceram dias de felicidade, friezas que me congelam e endurecem.
Uma vez mais, escondo-me em piadas fáceis, banalidades, frases feitas e senso comum. Deixo-vos ver apenas o que é bom de ser visto, e quando as coisas se aproximam de um qualquer limite, sai alguma dor, no tom de uma queixa trivial, para afastar um bocadinho o ponto de ruptura, deixando o resto escondido de novo.

Sinto-me um miosótis escondido atrás da grande muralha da China. Algo simples e frágil, de tal forma, que não sei se vale a pena atravessar um obstáculo tão difícil para lá chegar. Sim, insegura. Há tantos anos incerta acerca de mim mesma. Assombrada por defeitos que não consigo contornar, não sei se vale a pena tentarem ver o que escondo. A muralha foi contruída por mim, e não me restam forças, ou vontade para a deitar a baixo. Também não tenho capacidade para me fazer ouvir e torno a não saber se quero que me oiçam. É esta necessidade masoquista de me sentir diferente.

Algures existem pequenas esperanças, nalguns abraços, em beijos furtivos, em palavras meigas que me vão chegando, em pequenos nadas dos dias bons.

De repente tudo muda. Porque não me percebes acabas por me magoar com um gesto bem intencionado. porque não compreendes os meus motivos, a minha timidez, os medos ou as inseguranças. Porque em tantas coisas que são impossíveis de explicar, é necessário um entendimento intuitivo e silencioso para perceber. E hoje, quando a informação corre à velocidade da luz, o mundo está sempre a correr, e eu permaneço escondida, tu não me consegues ver, ou ouvir, ou sentir.

Uma brisa sopra gentilmente e agita-me ligeiramente. Levanto-me sem vontade, cedo a mais um incentivo. Saio, rio-me, e algo em mim aproveita uma noite, o resto permanece agarrado ao chão longínquo, atrás de pedras milenares que não são minhas, mas que carrego como se fossem.

"Tu" és um pronome impossível. Um não sei quem, não necessáriamente no sentido romântico da vida. Este "Tu" poderia ser uma das muitas pessoas que preenchem a minha vida, um animal de estimação, ou um objecto adorado. Todos igualmente reais, e igualmente incapazes de reconhecer que sou é contruída por uma sussesão de multiparadigmas voláteis. Que tudo muda, que a biologia em mim me leva a ser inconstante, a dar ares de incoerência, a ser muito mais que a soma das partes que me constroem. Sou igual a ti, mas sou diferente. Sinto as coisas de uma outra forma, escondo-me atrás de barreiras diferentes. Cada uma das minhas partes é igual à de milhões de outras pessoas, mas a soma delas, é algo indfinível.