segunda-feira, novembro 28, 2005


"Era apenas um pedaço de gente, abandonada numa sarjeta de sentimentos. Fizeste-me rainha naquela noite. Disseste-me que devia olhar sempre no fundo dos teus olhos para que pudesses para sempre ver as estrelas que brilhavam nos meus… sempre soube que eram apenas lágrimas, mas naquela noite fizeste-me acreditar que sim, que tudo valia a pena.
Era apenas mais uma miúda tímida, uma sombra de gente que vagueava pela vida sem saber muito bem para onde ir. Fizeste-me acreditar que eu era bela, que para ti, eu era bela.
Era apenas um papel amachucado e deitado fora, mas disseste-me que eu era a mais bela carta de amor que tu jamais descobriras… e eu acreditei. Eu quis acreditar, porque era tão bom sentir-me assim, desejada, bela, sensível… mesmo quando o mundo lá fora me dizia o contrário.
Encostei-me ao teu peito, e senti o teu coração a bater tão descompassado como o meu, pelas tuas faces corriam lágrimas doces, que se misturavam com o sal das minhas. Descodificaste cada pedacinho de mim, sem nunca sequer me chegares a conhecer verdadeiramente.
Sentia-me um cacto cheio de espinhos que mantinha o mundo à distância, mas tu fizeste-me sentir como o mais delicado miosótis do teu jardim. No teu abraço prometeste que estarias lá para sempre, e mesmo sabendo que também tu não tinhas a certeza disso, deixei-me acreditar em tudo o que dizias. Deixei-me enganar de propósito, porque era bom assim. Tu também acreditaste, talvez por ingenuidade, ou apenas porque querias tanto que fosse verdade.
Eu era apenas uma criança, daquelas que cresceu depressa demais, mas que se deixa ser ingénua de vez em quando. Acreditei naquele conto de fadas, e fui tua. O meu corpo tremeu de cada vez que me tocaste, e chorei contigo, e por ti, e para ti.
Eu era, apenas. Tu fizeste-me ser. Abraçaste-me, despiste-me de todos os escudos onde sempre me escondi, e exibiste-me, como numa vingança pessoal. Castigaste o mundo por ele nunca me ter visto como tu me vias, mostraste tudo aquilo em que me tinhas feito acreditar, e depois reclamaste-me para ti.
Foi há tanto tempo… já não sou aquela miúda, e tu já não me abraças. Já não sou papel amachucado, nem carta de amor. Hoje, sou o diário, com folhas de papel reciclado, escrito a tinta permanente. Hoje sei que vou ficar marcada em algumas vidas como tu ficaste na minha…
Hoje aprendi o porquê de dizeres que todas as pessoas têm a capacidade de mudar, mas que às vezes precisam que alguém as ensine…"

3/11/2005

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