quinta-feira, agosto 31, 2006

Mais um dia

Mais um dia passou, apenas mais um.
Um mês correu debaixo dos meus pés, um verão arrefeceu nas minhas mãos abertas, um nada se escapou deste abraço sem sentido que fui dando a mim mesma.
Tinha que escrever aqui estas palavras porque tenho saudades de saber como é ser eu. Já não sei, e a cada conversa que temos isso se prova.
Prova-se que as certezas são mais ilusões que outra coisa, prova-se que sou apenas assim, miúda incoerente, e cheia de vontade de ser, sem saber o que isso significa.
O traço incerto na folha de papel denuncia os meus medos, denuncia a minha fraqueza... a transparência acusa a falta de vontade, e o tempo que levo a escrever anuncia em altos berros a minha apatia.
Aqui estou eu, nua, despida de tudo, e contudo não me vês, porque eu não deixo. Mais uma vez, no meio de tantas palavras, apenas ouves as que ficam ditas, e a culpa é minha, porque não digo outras.
Preciso de um abraço descomprometido, de carinho desinteressado, de aprender a lidar com tudo isso.
Porque a intimidade complica tudo, e depois deixo de saber o porquê de as coisas serem assim.
Era tão bom, quando as carícias eram inocentes, e me pareciam desinteressadas. Era tão bom uma amizade assim, aquele ardor platónico de algo que supostamente nunca viria a ser.
Desculpa a crueldade das palavras... talvez eu devesse ter nascido no tempo desses amores à distância, em que o desejo fica sempre pendurado num lencinho de seda na janela, mas nunca chega à mão do desejado amante.
Queria um abraço forte, queria carícias nas minhas mãos, um afago na cabeça, um colo reconfortante que me dissesse que os problemas se hão de resolver, e que posso chorar à vontade, que ninguém, nem mesmo tu, está a ver. Carinho...
E depois, uma mensagem que diz amo-te, e à qual não respondo imediatamente. Não era tua, era desinteressada, era um amo-te de uma criança que talvez o tenha dito pela primeira vez. Um "amo-te" desarmou-me. Queria afagar aquela criança, tomá-la nos meus braços e dizer-lhe que amanhã vai estar tudo bem, mas não posso, como tu não podes.
Porque amanhã não vai estar tudo bem... tu vais continuar aí, e eu aqui. Quem morreu já morreu e não volta mais, porque quem grita, grita sempre, quem ama, nunca ama o suficiente, ou nunca o demonstra o suficiente... porque somos apenas seres humanos, e tinhas que ser mais que um ser humano para conseguires ser e saber tudo o que eu preciso. Porque sou incoerente, porque sou insatisfeita, porque sou insegura e sei disso.
Porque me conheço bem demais, sei que nunca tiveste hipótese de cá chegar, mas mesmo assim deixei-te tentar.
Foi mais um dia, mais um. Mais um dia em que o tédio tomou conta de mim, não me deixou fazer nada do que havia planeado. Porque me sinto assim, insuficiente.
Insuficiente na escola, no trabalho, para os amigos. Insuficientemente bela, ou inteligente, ou perspicaz. Insuficientemente útil, ou pragmática, ou sem ideias que resolvam esses problemas que ajudei a criar. Mais um dia em que encerrei as lágrimas cá dentro, porque me sinto um empecilho. Sinto, apenas isso. Talvez não seja, talvez não dê despesas a mais, talvez não haja mesmo nada que eu possa fazer senão manter-me à parte, talvez as pessoas precisem da minha presença, mas apenas estejam ocupadas demais para reparar se eu estou lá ou não...
Talvez, no meio disto tudo, a vitima sejas tu, porque sempre me viste, mas eu já estava demasiado habituada a não ser notada, e achei que era invisível.
Porque "Amo-te" foi uma expressão que ouvi poucas vezes, e raramente nela acreditei, porque sempre achei que não era possível.
Sinto-me um empecilho... hoje como nunca, porque os problemas assim o mostram, e ninguém viu que era assim que eu me sentia, então ninguém me disse que era mentira. Nem tu, porque eu não deixei. Por isso é que me sinto tão bem longe, ao menos sei que a mais não estou de certeza, as minhas presenças tão esporádicas nunca são suficientes para incomodar muito, e o tempo vai passando.
Mais um dia... mais um.
Mais um dia de menina isolada numa concha bem fechada, e de palavras tristes.
Mas tinha que escrever... desculpa, mas tinha que escrever.
Tinha que te escrever a verdade, porque ninguém me abraça como tu e eu queria poder agarrar esse abraço para sempre.

sábado, agosto 12, 2006

Far Away


E foi assim.
Foi assim que descobri que cada dia passa à sua própria velocidade, não interessa o que eu quero, nunca interessou.
Foi assim que descobri que as coisas são como são, e por mais que tentes, não as consegues mudar, moldar um pouco talvez.
Foi hoje, porque o sono não veio, foi hoje, ao som da mesma música repetida dezenas de vezes, foi hoje que as coisas começaram a fazer sentido.
Magoei-te escusadamente, apesar de tudo o que dizes, ou achas, ou sabes que te dei, nunca seria capaz de te dar o suficiente, não para mim.
Não porque eu seja muito generosa, mas porque só sei ser assim, se existe algo para dar, então dou, tudo.
Desculpa por ter tido tão pouco para dar, quando nos teus bolsos havia tanto que querias que fosse meu. Sei que acabaste por deixar tanto pelo caminho… tantas palavras, tantos carinhos, tantos beijos e promessas, que foram ficando esquecidos com medo da minha reacção. Foi assim, que desperdicei algo tão belo, tão lindo… porque nunca ninguém me ensinou a receber, e eu não deixei que me ensinasses. Porque foi assim que o tempo decidiu.
Passo a passo começo a tentar afastar-me de mim mesma, porque acho que repito os mesmos erros vezes sem conta. Talvez nem me afaste de ti, talvez.
Mas quando ouvi a música, sim, quando finalmente ouvi a música percebi que nunca seria capaz de ta oferecer, e nunca parei de esperar que mais alguém ma oferecesse…
Fui egoísta, porque quis tudo para mim, esqueci-me da pessoa que estava desse lado.Desculpa, que parece ser a palavra de ordem dos últimos tempos, desculpa-me por nunca saber bem o que se passa comigo até o tempo se encarregar de me abrir os sentidos.