terça-feira, junho 14, 2016

Sentes-te a cair e sabes que não há uma rede de segurança. Não vês o fundo e a paisagem confunde-se com os pesadelos que te atormentam.

Tentas gritar, mas o ar prende-te os movimentos, não emites nenhum som, não te consegues mexer, não consegues ver.

Enclausurada em mim, lágrimas dançam no meu peito mas controlo-as, como sempre, encerro os sentimentos no mais íntimo da minha existência.

Não pode ser assim, dói pela antecipação do desastre, que sabes que está para chegar e não o podes evitar.

Porque a vida te provou, vezes sem conta, que és dispensável, e ainda assim sonhas em ser o centro da vida de alguém, numa ingenuidade infantil que desprezas.

Palavras doces são insuficientes, falta alguma coisa e ainda assim atiras-te, esqueces, nem que seja por um momento, esqueces o pânico, a dor, o que sabes ou achas saber, e saltas...

Dói, sabes que dói. Destróis-te por dentro e sabes que os danos podem ser irreparáveis, mas saltas, deslizando pela doçura de palavras nas quais não acreditas, imaginando as escarpas que te aguardam no fim da queda livre. Muda, com um nó apertado na garganta, mesmo sabendo que o teu silêncio tem um preço...

As palavras saem-me dos dedos, porque o anonimato de não sentir os teus olhos expectantes nos meus permite-me ser...

Saltei mas estou à espera que doa. Aguardo num misto de adrenalina e pânico, porque sei que vou sentir o impacto, que a pele se vai rasgar por dentro, sei...

Saltei sem rede, sem norte, sem coragem, mas saltei, e agora nada falta senão esperar...

terça-feira, maio 31, 2016

Não vales a pena, e sabes disso.
Não vales lágrimas preocupações ou noites sem dormir. Não há generosidade que compense quem tu és. O espelho não te perdoa, e seja qual for o motivo, o sol põe-se sempre no mesmo sítio.

Estás aquém das expectativas. Não correspondes aos padrões impostos pela sociedade, mais ou menos perfeita, mas não encaixas. Não és mais que um cenário, figurante dispensável na vida de outréns. És um ponto de interesse volátil, algo que enriquece o enredo nalgum momento, mas que não faz diferença no resultado final. E talvez alguns entendidos dessem pela tua falta, daquele extra, daquele 1% a mais, mas se fosse qualquer outro no teu lugar...

Cansada de ser mais uma, de estar a mais, de incomodar... Cansada de pessoas que se contentam com a minha presença, mas que estariam bem melhor com alguém mais... Qualquer coisa. Cansada de ser eu e incapaz de ser outra coisa qualquer, no limbo que define uma rotina que não escolhi. Resignada ao silêncio forçado, aos risos falsos, ao encaixe fingido de ser eu...

Não sou... suficiente. Fico ligeiramente à margem, no limiar, no limite do normal, do ridículo, do visível, do desejável. Sou... Apenas, e sei-me tão melhor se às vezes não fosse... Eu.

Piegas, insensível, egoísta, generosa, destemida com tantos pânicos encerrados atrás de uma fachada tão bem construída. Vês o que vês, e talvez não valha a pena veres mais que isso. Vivo no impasse da vontade e do correcto, abraçando as responsabilidades e ignorando o resto. No seio de uma vida mundana, cheia de nadas que são isso mesmo, nadas. Numa vida que não escolhi, num corpo que arrasto por aí como estandarte das minhas derrotas. Porque na minha realidade não há vitórias, nas fantasias também não, por isso ergo as derrotas como medalha sarcástica de uma corrida em que não me inscrevi.

Um passo de cada vez, inseguro e silencioso. Entro e saio das vidas alheias como se da minha casa se tratasse, poucos ficam, e mesmo esses mantenho à distância de um braço, não vá o meu desajeito tombar sobre quem não merece tal peso.

Tão pouco resta a dizer... As lágrimas não fluem como antigamente, e os sentimentos parecem ter ido com elas. Incapaz de verbalizar, de sentir ou de ser, porque são anos acumulados em cima de memórias irresolúveis.

Eu... Que um dia sorri porque o sol brilhava lá fora. Eu... Que algures no tempo acreditei, hoje, cínica, vazia, etérea... tantos nadas acumulados no mesmo sítio, e eu sem nada para fazer com eles.