Não vales a pena, e sabes disso.
Não vales lágrimas preocupações ou noites sem dormir. Não há generosidade que compense quem tu és. O espelho não te perdoa, e seja qual for o motivo, o sol põe-se sempre no mesmo sítio.
Estás aquém das expectativas. Não correspondes aos padrões impostos pela sociedade, mais ou menos perfeita, mas não encaixas. Não és mais que um cenário, figurante dispensável na vida de outréns. És um ponto de interesse volátil, algo que enriquece o enredo nalgum momento, mas que não faz diferença no resultado final. E talvez alguns entendidos dessem pela tua falta, daquele extra, daquele 1% a mais, mas se fosse qualquer outro no teu lugar...
Cansada de ser mais uma, de estar a mais, de incomodar... Cansada de pessoas que se contentam com a minha presença, mas que estariam bem melhor com alguém mais... Qualquer coisa. Cansada de ser eu e incapaz de ser outra coisa qualquer, no limbo que define uma rotina que não escolhi. Resignada ao silêncio forçado, aos risos falsos, ao encaixe fingido de ser eu...
Não sou... suficiente. Fico ligeiramente à margem, no limiar, no limite do normal, do ridículo, do visível, do desejável. Sou... Apenas, e sei-me tão melhor se às vezes não fosse... Eu.
Piegas, insensível, egoísta, generosa, destemida com tantos pânicos encerrados atrás de uma fachada tão bem construída. Vês o que vês, e talvez não valha a pena veres mais que isso. Vivo no impasse da vontade e do correcto, abraçando as responsabilidades e ignorando o resto. No seio de uma vida mundana, cheia de nadas que são isso mesmo, nadas. Numa vida que não escolhi, num corpo que arrasto por aí como estandarte das minhas derrotas. Porque na minha realidade não há vitórias, nas fantasias também não, por isso ergo as derrotas como medalha sarcástica de uma corrida em que não me inscrevi.
Um passo de cada vez, inseguro e silencioso. Entro e saio das vidas alheias como se da minha casa se tratasse, poucos ficam, e mesmo esses mantenho à distância de um braço, não vá o meu desajeito tombar sobre quem não merece tal peso.
Tão pouco resta a dizer... As lágrimas não fluem como antigamente, e os sentimentos parecem ter ido com elas. Incapaz de verbalizar, de sentir ou de ser, porque são anos acumulados em cima de memórias irresolúveis.
Eu... Que um dia sorri porque o sol brilhava lá fora. Eu... Que algures no tempo acreditei, hoje, cínica, vazia, etérea... tantos nadas acumulados no mesmo sítio, e eu sem nada para fazer com eles.
terça-feira, maio 31, 2016
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