segunda-feira, outubro 13, 2014

Se te soubesses indesejado, ficavas?

Se a tua infância fosse um retalho de imagens da felicidade alheia, permanecias?

Se te revisses em cada defeito do mundo, paravas?

E se nada em ti fosse suficiente, e ninguém te pedisse para que não fosses, aguentavas mais um dia?

E se respirar te matasse de mansinho, sorrias?

E na ausência de opções, qual seria o teu próximo passo? Isolavas-te, ou corrias?

Todos somos assombrados, por um, ou vários demónios, medos ou inseguranças, traumas ou apatias, mas o que fazer quando é de ti que tens medo?

Para onde ir quando estás encurralado na tua própria garganta?

Como continuar a ser? Rir? Amar?

Se à tua volta todos encaixam mas tu és rejeitado por seres diferente num embalagem como as outras.

Porque para ti qualquer nada tem de servir e porque sabes o que pensam, ou o que sentem, sem que nenhum gesto esteja lá para confirmar.

Será que vales a pena? Não serás apenas mais um que vai sobrevivendo?

Um desperdício de espaço, um entrave em tantas vidas?

E se ao final de dias de silêncio ninguém te procurou, perguntas-te o que fazes aqui? Ou bebes mais um copo na esperança que amanhã seja melhor?

E se deixasses de ser, será que o mundo sorria? Ou, como os restantes, não dava pela pequena ausência?

E se o mundo acabasse hoje, quem é que ia querer estar ao teu lado para dizer adeus?

sexta-feira, setembro 12, 2014

"Se fosse fácil ser, a ausência de desafios levar-te-ia ao desespero.
Se fosse justo, qualquer um encararia a vida de cabeça erguida.

Se fosse lógico... se ao menos fosse lógico...

Não sei, nem sei se quero saber, a procura incessante por algo mais, a insatisfação nas poucas simplicidades ao meu redor, a tristeza que impera nos dias. Tristeza essa, que nem sei se de tristeza se trata, apenas um nada qualquer que me leva a ponderar os propósitos.

Se ao menos fosse linear...

...não sei. Essa expressão que impera neste império vão, é de facto uma resposta válida na nossa ignorância diária, às vezes rasgada por momentos alucinados de uma clareza quase pura, e mesmo desses, nada sei.

Às vezes superior a tudo isso, num riso despreocupado, vivendo pequenos instantes e sugando-lhes um êxtase absurdo que não consigo explicar. E depois? O ridículo de vidas vividas em rotinas cansativas, que desesperam quem as vive, quem não tem alternativa, porque a rotina já não é uma escolha, é um trilho tortuoso e obrigatório.

Se ao menos conseguisse explicar...

Queria trazer os meus fantasmas e mostrar os meus porquês, ou, na impossibilidade do absoluto, um ou dois dos meus porquês. Mas queria-o sem consequências, apenas compreensão silenciosa, mas...

(entrelinhas?)

Vai ficando nas entrelinhas esquecidas, e vou levando a minha ausência de rotina, um dia de cada vez.

Não sei ser diferente, não sei explicar, não consigo ser melhor e também não quero ser pior. Não adivinho o futuro e não me deixam mudar o passado. Talvez tenham sido só sonhos menos bons, criados pela fertilidade da minha imaginação cansada pelo cinzento dos dias.

Se ao menos eu soubesse alguma coisa, esta ignorância frustrante de saber que há algo, que tens a capacidade de compreender, mesmo ali à frente, mas não tens um único vislumbre do que se possa tratar.

Se ao menos fosse coerente... Talvez eu não fosse eu, e se assim fosse, quem o seria por mim?"

Os minutos continuam em pequenos nadas, gestos mais ou menos significantes que preenchem aquele cantinho aconchegado. Motivos egoístas? Talvez. Não sei ser o que esperam que eu seja, nem conheço forma de transmitir o que tudo isto significa. Não sei contornar os obstáculos sem os compreender, e a intuição (será esta a palavra?) leva-me a atitudes iguais a mim.

E se ao menos isto fizesse sentido, não ficaria este amargo no ar, ou no papel, ou naquele cantinho aconchegado, que só e sei onde fica...

domingo, agosto 31, 2014

...

Num mundo que parece girar à velocidade da luz, ser sensível é tão pior que ser invisível.
Interpretada como fraqueza, talvez até por mim... ou principalmente por mim, a sensibilidade é o defeito que acaba por me consumir.
À minha volta observo as falsas fragilidades usadas em jogos de sedução. Não consigo ser o que não sou, e não escondo a independência que faz de mim quem sou. Não sinto necessidade de gestos grandiosos, de ajuda, ou de cavalheirismos forçados e banais. Não sou frágil, sou resistente, sou independente e orgulhosa, sou forte e sou feroz. Mas sou humana. Há palavras, olhares e risos que me magoam. Desatenções que dilaceram dias de felicidade, friezas que me congelam e endurecem.
Uma vez mais, escondo-me em piadas fáceis, banalidades, frases feitas e senso comum. Deixo-vos ver apenas o que é bom de ser visto, e quando as coisas se aproximam de um qualquer limite, sai alguma dor, no tom de uma queixa trivial, para afastar um bocadinho o ponto de ruptura, deixando o resto escondido de novo.

Sinto-me um miosótis escondido atrás da grande muralha da China. Algo simples e frágil, de tal forma, que não sei se vale a pena atravessar um obstáculo tão difícil para lá chegar. Sim, insegura. Há tantos anos incerta acerca de mim mesma. Assombrada por defeitos que não consigo contornar, não sei se vale a pena tentarem ver o que escondo. A muralha foi contruída por mim, e não me restam forças, ou vontade para a deitar a baixo. Também não tenho capacidade para me fazer ouvir e torno a não saber se quero que me oiçam. É esta necessidade masoquista de me sentir diferente.

Algures existem pequenas esperanças, nalguns abraços, em beijos furtivos, em palavras meigas que me vão chegando, em pequenos nadas dos dias bons.

De repente tudo muda. Porque não me percebes acabas por me magoar com um gesto bem intencionado. porque não compreendes os meus motivos, a minha timidez, os medos ou as inseguranças. Porque em tantas coisas que são impossíveis de explicar, é necessário um entendimento intuitivo e silencioso para perceber. E hoje, quando a informação corre à velocidade da luz, o mundo está sempre a correr, e eu permaneço escondida, tu não me consegues ver, ou ouvir, ou sentir.

Uma brisa sopra gentilmente e agita-me ligeiramente. Levanto-me sem vontade, cedo a mais um incentivo. Saio, rio-me, e algo em mim aproveita uma noite, o resto permanece agarrado ao chão longínquo, atrás de pedras milenares que não são minhas, mas que carrego como se fossem.

"Tu" és um pronome impossível. Um não sei quem, não necessáriamente no sentido romântico da vida. Este "Tu" poderia ser uma das muitas pessoas que preenchem a minha vida, um animal de estimação, ou um objecto adorado. Todos igualmente reais, e igualmente incapazes de reconhecer que sou é contruída por uma sussesão de multiparadigmas voláteis. Que tudo muda, que a biologia em mim me leva a ser inconstante, a dar ares de incoerência, a ser muito mais que a soma das partes que me constroem. Sou igual a ti, mas sou diferente. Sinto as coisas de uma outra forma, escondo-me atrás de barreiras diferentes. Cada uma das minhas partes é igual à de milhões de outras pessoas, mas a soma delas, é algo indfinível.