domingo, outubro 30, 2005

Para ti... que hoje estás triste


Também eu fui triste um dia. Estava triste porque não sabia estar de outro modo. Habituei-me àquele ciclo de dias negros, mesmo quando o sol brilhava. Habituei-me a não sair da minha pequena concha, a ficar ali quieta, a mostrar-me pequena, fugaz. Para ti, que apenas hoje estás triste, mas que ontem rias com gosto. Não te deixes apanhar nesse ciclo. Não deixes que os teus sorrisos sejam lavados pelas lágrimas. Estar triste, pensativo, distante... por vezes é bom, dá-te tempo para reflectir. Mas ser triste... deixa-te a alma dividida, entre a vontade de deixar de ser assim, e a falta de forças que o hábito nos impõe. Não sejas triste. Sorri para mim de novo. Porque eu, na distância descobri que estou viva, a minha pele transpira com o sol abrasador, e arrepia-se com a brisa da noite. Quando estou nervosa, sinto borboletas no estômago, tremo, e rio-me. Também tu estás vivo. Também sentes, e amas, e ficas nervoso, e arrepias-te. Também vês o belo e o feio. Estamos vivos, e a vida, por mais dura que seja, foi feita para sermos o mais felizes que conseguirmos. Todos os dias criamos expectativas sobre pessoas, situações, filmes... todos os dias há algo que nos desilude, e isso também faz parte da vida. Sorri, sorri para mim, porque se tu sorrires, eu sorrio também, e naquele momento, seremos felizes, apenas por estarmos assim, vivos.

segunda-feira, outubro 10, 2005

Um pouco de céu

Só hoje senti, que o rumo a seguir, levava p’ra longe
Senti que este chão já não tinha espaço p’ra tudo o que foge

Não sei o motivo p’ra ir, só sei que não posso ficar,
Não sei o que vem a seguir, mas quero procurar.

E hoje deixei de tentar erguer os planos de sempre
Aqueles que são p’ra outro amanhã que há de ser diferente

Não quero levar o que dei, talvez nem sequer o que é meu
É que hoje parece bastar, um pouco de céu, um pouco de céu

Um pouco de céu, um pouco de céu.

Só hoje esperei, já sem desespero que a noite caísse
Nenhuma palavra foi hoje diferente do que já se disse

E há uma força a nascer bem dentro no fundo de mim
E há uma força a vencer qualquer outro fim

Não quero levar o que dei, talvez nem sequer o que é meu
É que hoje parece bastar, um pouco de céu, um pouco de céu
Um pouco de céu, um pouco de céu. (3X)

Mafalda Veiga - Um pouco de céu

quinta-feira, outubro 06, 2005

A carta

Tenho uma carta no bolso. Não a meti no correio. Soprei-a num beijo e lancei-a ao vento.
Mas tenho as palavras no bolso, e tu vais tê-las no rosto.
No meu, trago um sorriso que subiu da carta e se colou nos lábios, deixando os olhos brilhantes e os bolsos vazios.