Viro-me contra mim mesma… não posso fazer mais nada. Agarro-me ao que tenho, mas parece não ser suficiente. E tenho muito, mas não tenho o que procuro há tanto tempo.
Se morresse agora, havia muita gente a preocupar-se, a sofrer, a culpar-se… mas eu não, se eu morresse hoje, EU não me preocupava, EU não ia querer saber.
E revolto-me, porque sei quem sou, porque tenho um caminho traçado, e consigo percorrê-lo, apenas tenho pouca vontade de o fazer sem alguém ao meu lado. Porque me sinto destinada a viver sozinha, e isso magoa, arde, como pedaços de metal incandescente debaixo da minha pele… o meu coração vai batendo ao seu ritmo, e tudo o que eu quero é que ele pare, porque não me apetece estar viva.
Porque os passeios sozinha cansam, porque sinto falta das cumplicidades, de alguém que me diga todos os dias “ainda bem que estás aqui”. Eu não estou “aqui”, eu não estou em lado nenhum. Eu existo, uma existência surreal, silenciosa, calma. De quem aproveita tudo o que pode, mas não vive, eu não vivo, eu não consigo viver.
Revolto-me comigo, porque estou aqui, neste sonho, nesta perspectiva de futuro dourada, mas falta algo que lhe dê brilho, porque na minha existência eu não sou suficiente, e isso rasga-me os bolsos e deixa os projectos caírem por terra.
Encosto-me a uma parede qualquer e deixo-me escorregar até ao chão, cruzo os braços nos joelhos e desespero. Eu devia ser suficiente para mim mesma, mas não sou, e vou-me consumindo, em sorrisos, em boa disposição, em esforços sobrenaturais para acompanhar tudo, para mostrar a todos que está tudo bem… e está, porque estou bem, fisicamente bem, mas falta-me um pedaço de mim. Incompleta, e não gosto de me sentir assim. Eu sou, eu posso, eu faço. Arrasto mais uma perna para a frente, esboço mais um sorriso, evito pensar. Falta algo… não gosto de ser assim, não gosto de estar assim.
Já não me entrego, tenho medo, de deixar outro pedaço de mim com alguém, e ficar com outro buraco na alma… transformei-me neste animal desconfiado das sombras, nesta estranha que se olha de lado no espelho, com medo do que possa encontrar, transformei-me, e agora não há volta atrás.
Esmurrei-me de propósito, torturei-me, mas as lágrimas não querem vir, aquele lado sensível esvaiu-se, ou escondeu-se… sofro sem sequer conseguir sofrer, nesta apatia imperceptível, neste rancor manso, nesta existência artificial em que entrei, neste caminho triste de onde não sei sair.
13/03/2008
Sem comentários:
Enviar um comentário