Acordada pelos pássaros azuis que poisaram na minha janela esta manhã.
Debaixo de mim o lençol respirava pausadamente, sem se aperceber do tumulto que se passava ali ao lado. Encostei-me mais ao cobertor estremunhado e perguntei-lhe as horas, ao que entre dentes me respondeu “é cedo…”.
Levanto-me sem fazer barulho e sento-me na cozinha. O dia só agora começa a despontar por cima dos prédios preguiçosos, que nunca se deviam para eu ver as montanhas geladas.
Encho-me de coragem e ponho-me a trabalhar, mas as folhas parecem desviar-se do caminho das minhas mãos. O telefone continua calado, as horas vão pingando taciturnas pela torneira mal fechada. Falta pouco, e no entanto parece uma eternidade, os momentos correm, distraídos pelas minhas veias envenenadas, o café fumegante preenche o ar sem pedir licença, acostumado a este ritual diário.
Uma vez mais sei que estás aí, que me observas de longe, do alto da tua imaginação, adivinhas cada movimento, calculas cada sopro de respiração forçada, marcas o compasso de cada batida do meu coração sem nunca te mostrares. Imaginas os arrepios da minha pele e regozijas-te quando lês os meus pensamentos.
Olho pela janela mas não te vejo, sei que estás aí, mas não à vista. Fecho a janela e sem fazer ruído volto à cama adormecida. Viro-me de um lado para o outro mas a almofada ressona, não me deixando dormir.
Volto à sala gelada, e ponho um filme lamechas. Choro sem saber porquê e acabo por me deixar adormecer ali mesmo, num sofá apertado e desconfortável.
Ele não gosta de mim, desde que lhe derramei café em cima, nem a palavra me dirige, é o castigo que me dá, pelo desajeito crónico que me ataca todas as manhãs.
Pouco me importa, não é com ele que eu quero falar, queria ouvir a tua voz, nem sei o que tinha para te dizer, mas a tua atenção ia ser um prémio merecido, pela minha paciência de te esperar há tanto tempo.
Já gastei a saliva, e todas as minhas palavras fazem tanto sentido como aquela música que falava de príncipes e de montanhas de puré.
Somos parvos, eu e tu. Evitamos o que já por si é impossível, como se fosse esse o único propósito de estarmos aqui, nunca vamos falar, esse conto de fadas que estás a construir à volta dessa princesa que nunca viste, vai-se desfazer em fumo, e vais acabar casado com alguém que há de te amar como eu nunca seria capaz.
Vais sentir esse vazio para o resto da vida, mas nunca vais saber porquê. Um dia deixas de sonhar comigo, e eu hei-de voltar a controlar a minha respiração, seguir os dias como antes, na busca de algo que nunca chega, neste vivência pacífica de dias sempre diferentes, nestes desastres que acabam por me levar à solidão. Agarro-me como posso, a tudo o que é, deixo o passado escapar-me da vista e construo novos sonhos, novas memórias, novas amizades.
Mas sinto a tua presença, mesmo sabendo que não estás aqui, saudades da tua voz, que nem sei a que soa, necessidade do teu abraço, que nem sei bem se existe.
Durmo nos braços do sofá e os sonhos cessam de repente, deixam um grande vazio, terminado pelo sol que me queima as faces e me chama de volta para a realidade.
Debaixo de mim o lençol respirava pausadamente, sem se aperceber do tumulto que se passava ali ao lado. Encostei-me mais ao cobertor estremunhado e perguntei-lhe as horas, ao que entre dentes me respondeu “é cedo…”.
Levanto-me sem fazer barulho e sento-me na cozinha. O dia só agora começa a despontar por cima dos prédios preguiçosos, que nunca se deviam para eu ver as montanhas geladas.
Encho-me de coragem e ponho-me a trabalhar, mas as folhas parecem desviar-se do caminho das minhas mãos. O telefone continua calado, as horas vão pingando taciturnas pela torneira mal fechada. Falta pouco, e no entanto parece uma eternidade, os momentos correm, distraídos pelas minhas veias envenenadas, o café fumegante preenche o ar sem pedir licença, acostumado a este ritual diário.
Uma vez mais sei que estás aí, que me observas de longe, do alto da tua imaginação, adivinhas cada movimento, calculas cada sopro de respiração forçada, marcas o compasso de cada batida do meu coração sem nunca te mostrares. Imaginas os arrepios da minha pele e regozijas-te quando lês os meus pensamentos.
Olho pela janela mas não te vejo, sei que estás aí, mas não à vista. Fecho a janela e sem fazer ruído volto à cama adormecida. Viro-me de um lado para o outro mas a almofada ressona, não me deixando dormir.
Volto à sala gelada, e ponho um filme lamechas. Choro sem saber porquê e acabo por me deixar adormecer ali mesmo, num sofá apertado e desconfortável.
Ele não gosta de mim, desde que lhe derramei café em cima, nem a palavra me dirige, é o castigo que me dá, pelo desajeito crónico que me ataca todas as manhãs.
Pouco me importa, não é com ele que eu quero falar, queria ouvir a tua voz, nem sei o que tinha para te dizer, mas a tua atenção ia ser um prémio merecido, pela minha paciência de te esperar há tanto tempo.
Já gastei a saliva, e todas as minhas palavras fazem tanto sentido como aquela música que falava de príncipes e de montanhas de puré.
Somos parvos, eu e tu. Evitamos o que já por si é impossível, como se fosse esse o único propósito de estarmos aqui, nunca vamos falar, esse conto de fadas que estás a construir à volta dessa princesa que nunca viste, vai-se desfazer em fumo, e vais acabar casado com alguém que há de te amar como eu nunca seria capaz.
Vais sentir esse vazio para o resto da vida, mas nunca vais saber porquê. Um dia deixas de sonhar comigo, e eu hei-de voltar a controlar a minha respiração, seguir os dias como antes, na busca de algo que nunca chega, neste vivência pacífica de dias sempre diferentes, nestes desastres que acabam por me levar à solidão. Agarro-me como posso, a tudo o que é, deixo o passado escapar-me da vista e construo novos sonhos, novas memórias, novas amizades.
Mas sinto a tua presença, mesmo sabendo que não estás aqui, saudades da tua voz, que nem sei a que soa, necessidade do teu abraço, que nem sei bem se existe.
Durmo nos braços do sofá e os sonhos cessam de repente, deixam um grande vazio, terminado pelo sol que me queima as faces e me chama de volta para a realidade.
A esse alguém, que um dia há de vir...