De repente aquele aperto. Aquele que há tanto não me
visitava, a sensação de que algo está para vir, qualquer coisa que sei ser
incapaz de controlar, prever ou até compreender. E desta minha irracionalidade
ascendem medos antigos. Sentimentos que me despertam os sentidos e me deixam
apreensiva.
Na realidade, neste dia a dia banal, nada mudou, apenas este
aperto. Este canalha traiçoeiro que eu parecia ter esquecido. E nem um nome lhe
posso dar, é apenas qualquer coisa que de vez em quando surge para me
atormentar uns dias, e por vezes até se revela ser algo generoso na sua forma
de lidar comigo, meigo, manso, com agradáveis surpresas nas entrelinhas da
tortura.
Talvez seja eu, com vontade de me sentir assim, que procuro
este aperto que me incomode uns dias para que depois eu possa valorizar a paz
que se segue… talvez…
Um arrepio em dias quentes, um nó algures em mim que me
impede de comer mas que exalta a fome, como carrasco que me pretende castigar
por algo, aparentemente muito grave, mas que na realidade não sei o que terá
sido… a isto associa-se a culpa, que me vai invadindo com a presença desse
aperto. Não sei que culpa é, nem sobre quê, ou a quem, mas o sentimento é esse.
De repente sou culpada de tudo o que me queiram acusar, e nem tenho defesa
possível, como se lutasse contra um inimigo invisível.
Respiro fundo e refugio-me em qualquer coisa que me desvie a
atenção. Mas sinto-te aqui, a respirar sobre o meu ombro, a sussurrar algo
inaudível, sempre em tom de ameaça, e a minha atenção turva-se pela incerteza.
Que será desta vez? Será a tempestade do século, ou a surpresa do dia?
Quem me fez assim? Tomara-me ignorante e insensível, e
assim, quem sabe, talvez ele não me procurasse, ou eu não me apercebesse da sua
presença.
Um novo arrepio, um novo inspirar tão profundo quanto
possível. Um segundo de cada vez, sempre alerta, não vás tu saltar de onde
menos te espero e causar mais danos que os necessários.
Talvez seja eu a imaginar coisas… talvez.
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