quinta-feira, setembro 19, 2013

utopias

Não sei que palavras são estas que buscam o papel incessantemente. Não fazem sentido, pelo menos, não p'ra mim.
Inquietas, ou eu irrequieta, ajeitam-se na folha num frenesim silencioso até que finalmente param num canto qualquer em que permanecerão estáticas até que alguém se lembre de as agitar novamente.
Tinha saudades disto... colocar a caneta no papel e deixá-la correr sem destino certo. Deixar que ela desenhe, sem limites definidos, o que passa por mim. Não tem de fazer sentido, não tem de ser belo ou profundo, apenas tem de ser. Num suave atrito entre a espera e o papel liso, arrastem-se os sentidos ainda ensonados, sem pressas, sem intenção nenhuma além da singela vontade de escorrer fluídos pelo papel, outrora branco.

"Não sou mais do que sou, mas muito mais do que te permito ver. Também não és mais do que és, e no entanto, provavelmente, tão menos que o que quero ver em ti."

O tempo é um conceito estranho, e nós mais estranhos seremos por tentar decifrá-lo. Corre por nós à velocidade incrível dos sentidos, e no entanto parecem sempre arrastar-se lânguido em segundos infindos. 
Tento explicar, mas os conceitos parecem ser insuficientes para mostrar o que quer que seja. Palavras que ainda não foram inventadas seriam a solução, fosse eu diferente, fosse eu superior a mim mesma, com a capacidade de transmitir aquilo que é, mas que talvez nem eu saiba bem compreender.

Não seremos, jamais. Mas fica o aconchego de um sonho, a excitação de uma expectativa, o carinho de um gesto qualquer, incitados pelas expectativas que criamos em volta de um "nós", tão utópico como a liberdade absoluta.

Os sentimentos confundem-se com os sentidos, e a razão assombra-me as vontades. A electricidade corre em sinapses ansiosas e as palavras perecem escassear no final da folha, agora parda, rugosa, com um leve odor à tinta que me escolheu, manchada por tantos nadas que quase se deixam compreender por qualquer pessoa.

"Serei sempre o impasse entre o que gostaria que fosse, e aquilo que a vida me deixa ser..."

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