quinta-feira, setembro 22, 2005


Piso a estrada húmida. Oiço o queixume da água debaixo dos meus pés. Sigo em frente, com as mãos nos bolsos, o queixo e o nariz enfiados na gola alta da camisola quentinha. E um sorriso escondido lá no meio...

sexta-feira, setembro 16, 2005

What if...?


--- EDIT ------ O cerne deste post ------ EDIT ---

Estou de partida. Vou estudar para longe...
Não sinto que vá a fugir de nada, nem de ninguém. Acho que na realidade vou só "à procura das saudades que me digam que estou no lugar certo"... sinto-me perdida em mim mesma. Sei quem sou, só não sei quem vou ser no futuro. Estou insegura desta decisão... por outro lado não penso desistir dela, já tomei decisões cheia de certezas, e arrependi-me delas mal tinha acabado de "virar a esquina".
Quando era miúda tive um bote de borracha para duas pessoas, azul e amarelo. Um dia eu estava sozinha lá dentro, e vieram algumas ondas seguidas... tive esta sensação de que o mundo vai acabar e que eu me vou afogar, porue o barco é muito instável, e eu não sei nadar.

Mudo em breve, e ainda não sei se terei acesso fácil à internet... este meu retiro corre o risco de retornar a documentos escondidos numa pasta do meu computador, e um post ocasional nas visitas a casa.
Sinceramente, espero que isso não aconteça, mas se acontecer sei que terei muitas saudades... muitas mesmo.

Um beijo
Drops

terça-feira, setembro 13, 2005

Esperas...

Caminhos cruzam-se, olhares desafiam-se, palavras trocam-se, corpos respondem aos apelos instintivos de animais ditos civilizados. Depertam-se paixões, que acabam em cinzas de incêndios extinguidos num silêncio partilhado.
As pessoas são estranhas. Amam-se, partilham-se em carícias ou intimidades, ou palavras, ou amizades... mas nunca se dão, nunca verdadeiamente. E Quando decidem fazê-lo? Magoam-se... porque a altura nunca é a correcta, ou não o fazem à pessoa correcta, ou não são correspondidas.
Depois vêm os rancores, as pessoas fecham-se em pequenas conchas de madrepérola, e recusam-se a amar de novo. Não se entregam, abdicam da hipótese de serem felizes porque houve alguém que não o quis ser.

As pessoas são estranhas. Eu sou estranha. Tu também deves ser...

Caminhei vezes sem conta por uma praia que não conhecia, deixei-me abraçar por um mar salgado que nunca mais vou ver, enterrei os meus pés numa areia escura, e fina, que se entranhava em cada pedacinho de pele e depois saía como se nunca me tivesse tocado.
Vi um sol que lançava chamas no céu...o sol é sempre o mesmo, o céu também. Mas ali, longe de tudo, o efeito que tem... é poesia.
E a água, que ao encontrar a areia forma um espelho? Um espelho que distorce levemente a realidade e acentua a poesia...
Nessa praia descobri gente feliz. Que lançavam papagaios de papel, e jogavam à bola, e passeavam apaixonados à beira-mar... mas o que se esconde por trás disso? Aos meus olhos, apenas poesia.
Se ao menos eu fosse poeta conseguir-te-ia dizer com palavras sublimes que vale sempre a pena dares-te a alguém... deixares que as coisas aconteçam e que no fim tudo corre bem. Podia descrever-te aquele céu laranja, sob o qual vi aquelas pessoas que me pareciam tão felizes. Infelizmente, de poeta apenas carrego os sentimentos, e apenas te posso dizer que essa m(água) para que estás a olhar, é apenas um espelho distorcido da realidade.
Ama... ama muito, muitíssimo.


Foto: Marbella, Setembro de 2005. Tirada por mim, ao reflexo de alguém que merece o mundo.

domingo, setembro 11, 2005

Imagina

(Drops, 09/2005)


Imagina voltar a casa, após uma ausência… qualquer ausência. Antes mesmo de meteres a chave na porta já sentes o conforto da tua rotina, dos teus hábitos. O teu canto, a companhia dos que te são mais chegados, aquele abraço de boas vindas. O tagarelar sobre a viagem, descalçar os sapatos e calçar os chinelos que ficaram esquecidos no cantinho do quarto. Sentar no sofá da sala e ouvir os ruídos tão familiares…

Agora imagina não sentires saudades disso… consegues? ou então, sentires a falta disso, porque são essas coisas que te fazem pertencer a algum lugar, mas não as teres. Por força das circunstâncias o abraço é forçado e seco de carinhos. Não há tagarelar nenhum, só um silêncio castrador e olhares recriminatórios. Os chinelos estão frios, e nada te faz sentir confortável ali.

Nesse dia descobres que não estás na tua casa. Estás na casa de alguém, e sentes-te um intruso. Imagina estares fora, longe dessa casa e de tudo o que conheces, imagina que adoras estar lá, mesmo longe dos amigos, e da língua que conheces. Imagina o desconhecido, imagina tudo isso aliado àquela casa que não te espera…

Imaginas?

Eu não imagino. Não quero sentir isso, mas sinto. Sinto que algumas amarras se soltaram. Terei sido eu a corta-las? Alguém as cortou? O nó soltou-se? Não sei… sei que não tenho saudades… nem um abraço que me espere. Sei que estou triste, porque podia dar um passo para mudar isso, mas que tenho medo que não resulte.

Sinto-me só.

Pisei uma areia molhada, e deixei que as ondas se enrolassem nos meus pés. Deixei-me abraçar pelo sol que descia devagar pelas montanhas. Tive vontade de mergulhar e nadar até estar demasiado cansada para regressar.

Mas seria acusada de cobardia. Não, não sou cobarde. Ergo a cabeça, olho em frente. Sorrio e finjo que estou bem. Brinco, e rio-me. Censuro-me pela minha hipocrisia. Repugna-me este fingimento.

Não quero voltar, e por isso deixo que uma lágrima escorra tímida…

?

Está tudo bem… estou só cansada. E deito-me numa cama que não é a minha, nem a tua, mas que me acolhe e abraça como mais ninguém ousa fazer. E choro tudo, fingindo que durmo. Choro aquelas dores enterradas há tanto tempo… choro sozinha, sempre sozinha.

Mas sou eu que sou piegas. Fui eu que errei, as consequências são legítimas. As rejeições são válidas, as acusações certas. Porque a culpa é minha… sempre. (e também fui eu que abri um buraco na camada do ozono, fui lá com uma tesoura e rasguei-o o mais que pude.)

Choro mais um pouco. “Mariquinhas pé de salsa…”. Falta-me carinho… nada mais. Carinho puro e simples. Mas a culpa é minha não é?

NÃO É?

Eu é que sou arisca, e me afasto, e fujo…pois (também fui eu que causei a extinção dos dinossauros.)

Imagina-te só. Gente e mais gente ao pé. Alguns chamam por ti, e sorriem-te. Alguns alvitram que gostam muito de ti. Amigos, amigas, conhecidos… familiares. Todos de amam muito… todos! Mas nenhum deles te dá um afago quando estás triste. Um beijo de bons dias. Um abraço de saudades…

A culpa é minha.

Imagina… saudável, inteligente, forte, jovem. Com tanta gente que me ama tanto. Quero carinho para quê? Queixo-me de quê? Desejo tanto não ter nascido porque carga de água?

Oh mundo… doce mundo. A culpa é minha, sabias?

E o único erro que cometi foi nascer, tudo o resto é só uma consequência disso.

Desculpa-me mundo… desculpa.

11/09/2005