quarta-feira, julho 06, 2005

Entrelinhas

E o tempo parou de repente. Ouve-se… NADA! O restolhar de folhas confusas, canetas que correm apressadas… tudo isso é NADA! Porque as canetas correm, cheias de pressa, mas sem destino, porque não saem do mesmo sítio, ficam agarradas a algo que não sabem bem o que é, mas correm como se amanhã não fosse existir.
Em parte, também eu sou assim, corro, mas fico quieta, corpo estático, a agarrar uma caneta, e a alma vai correndo… à procura, do Futuro? Não sei… mas corre à mesma. O destino é irrelevante, o objectivo também, o que importa mesmo é correr, até não ter mais forças, é DAR, o melhor de mim, sempre, sem me importar se alguém o vai receber ou não. Porque é assim que eu aprendo, e que vou sendo feliz, porque mostro ao mundo, e provoco-lhe sorrisos, com insignificâncias que eu torno memoráveis, porque para mim, elas significam algo.
E então corro, cada vez mais, porque o pequeno mundo em que vivemos é grande demais para eu ficar parada… porque quero-lhe mostrar (ao mundo inteiro!) tudo o que me apetecer, e neste momento, apetece-me mostrar mesmo tudo, a começar pelo efeito da tinta desta caneta, sobre um papel, onde a tinta foi despejada, e há de continuar a ser. Mas a caneta é como eu… corre, corre e dá, mas nunca dá tudo o que queria dar, nem é tudo o que queria ser…
Mas a caneta, e eu também, tem sempre as entrelinhas, que é quando pára (ou paro eu…) para receber, é quando damos oportunidade aos outros de se partilharem um pouco, e depois corremos juntos no silêncio cúmplice de sabermos que estamos ali, e que esse pequeno nada nos faz feliz…
Como o restolhar da folha de um plátano lá fora, que quebrou o silêncio de outros restolhares… bem mais próximos de mim, mas bem menos importantes… porque não foi a tinta da minha caneta que cobriu aquelas páginas, mas foram os meus olhos que seguiram o movimento da folha, desde que caiu, até que foi arrastada pelo vento para uma corrida… como a minha? Quem sabe…

4 comentários:

Pescador disse...

Adorei o teu comentário no meu blog... pois a minha dúvida é mais fruto de uma certa desilusão do que sobre o conceito !! Sabes, não tenho tido muito tempo para passear por outros mares e ando um pouco cansado ..., mas amanhã vou-me voltar a sentar em frente a este teclado e vou comentar este teu post... para além de responder, ao som de boa musica e talvez saboreando um bom licor, ao teu ultimo mail !!
Bjs doces ... e um pouco salgados pois vão com sabor do mar ;-) !!
Pescador

PS: Eventualmente confuso porquê ??

Drops disse...

Confuso porque foi a sensação com que fiquei depois de comentar... =)

Beijo Grande, doce e ensonado
Drops

Pescador disse...

E de repente as palavras pararam... tento as ler...,mas elas tropeçam umas nas outras.. e volto a reler e ao fazê-lo vejo uma pequena sombra escondida por detrás delas, as palavras !!
Vejo-te, escrita e desenhada pelo significado dos signos.. não acredito em tudo, mas sinto que o nada aqui não existe !!
Não acredito que não te importes se alguém as irá receber ou não !!
A tua vida é aqui assumidamente uma folha de papel e tu uma caneta, e os teus segredos as entrelinhas, em letras pequeninas tão dificeis de ler !!
És uma pessoa especial drops, alguém que faz e irá fazer desenhos lindos numa folha de papel ainda e talvez muito branca !!
Bjs doces e serenos !!
Pescador

Drops disse...

Dar, receber, falar, ouvir, escrever, desenhar, amar, sorrir, ser... tudo faz parte da vida, e tudo isso devia ser dado, incondicionalmente... nem sempre o fazemos, mas eu tento. E dou realmente, sem me preocupar se alguém recebe. Porque anos de sentimentos escondidos levaram a que eu deixasse de ter espaço para guardar mais cá dentro... se os destinatários recebem, ou aceitam, ou querem sequer é "irrelevante" apenas porque eu não deixarei de transmitir o que sinto.

Eu não me escondo atrás das palavras... eu escrevo-as à minha frente. A diferença é pequena, mas existe. O facto de me esconder implicaria vergonha... eu só me deixo estar atrás das palavras, para que quem me "veja", o faça por querer realmente saber quem está ali.

E como hoje estou do contra... Eu sou tão especial como qualquer outra pessoa... sinto-me vulgar, comum, normal. Não sobressaio no meio de uma multidão, as minhas palavras são as palavras de uma "criança" como as outras, são sentimentos que estou a aprender a sentir. És tu pescador, o teu coração sensível, os teus olhos, a tua alma... tu és especial!
Obrigada, e

Um beijo enorme, doce e sereno.