quarta-feira, agosto 31, 2005

Se te queres

Se te queres matar, por que não te queres matar?
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida,
Se ousasse matar-me, também me mataria...
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas
A que chamamos o mundo?
A cinematografia das horas representadas
Por atores de convenções e poses determinadas,
O circo policromo do nosso dinamismo sem fím?
De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças finalmente...
Talvez, acabando, comeces...
E, de qualquer forma, se te cansa seres,
Ah, cansa-te nobremente,
E não cantes, como eu, a vida por bebedeira,
Não saúdes como eu a morte em literatura!
Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém...
Sem ti correrá tudo sem ti.
Talvez seja pior para outros existires que matares-te...
Talvez peses mais durando, que deixando de durar...
A mágoa dos outros?... Tens remorso adiantado
De que te chorem?
Descansa: pouco te chorarão...
O impulso vital apaga as lágrimas pouco a pouco,
Quando não são de coisas nossas,
Quando são do que acontece aos outros, sobretudo a morte,
Porque é coisa depois da qual nada acontece aos outros...
Primeiro é a angústia, a surpresa da vinda
Do mistério e da falta da tua vida falada...
Depois o horror do caixão visível e material,
E os homens de preto que exercem a profissão de estar ali.
Depois a família a velar, inconsolável e contando anedotas,
Lamentando a pena de teres morrido,
E tu mera causa ocasional daquela carpidação,
Tu verdadeiramente morto, muito mais morto que calculas...
Muito mais morto aqui que calculas,
Mesmo que estejas muito mais vivo além...
Depois a trágica retirada para o jazigo ou a cova,
E depois o princípio da morte da tua memória. Há primeiro em todos um alívio
Da tragédia um pouco maçadora de teres morrido...
Depois a conversa aligeira-se quotidianamente,
E a vida de todos os dias retoma o seu dia...
Depois, lentamente esqueceste.
Só és lembrado em duas datas, aniversariamente:
Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste.
Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada.
Duas vezes no ano pensam em ti.
Duas vezes no ano suspiram por ti os que te amaram,
E uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala em ti.
Encara-te a frio, e encara a frio o que somos...
Se queres matar-te, mata-te...
Não tenhas escrúpulos morais, receios de inteligência! ...
Que escrúpulos ou receios tem a mecânica da vida?
Que escrúpulos químicos tem o impulso que gera
As seivas, e a circulação do sangue, e o amor?
Que memória dos outros tem o ritmo alegre da vida?
Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem.
Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma?
És importante para ti, porque é a ti que te sentes.
És tudo para ti, porque para ti és o universo,
E o próprio universo e os outros Satélites da tua subjetividade objetiva.
És importante para ti porque só tu és importante para ti.
E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?
Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido?
Mas o que é conhecido? O que é que tu conheces,
Para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial?
Tens, como Falstaff, o amor gorduroso da vida?
Se assim a amas materialmente, ama-a ainda mais materialmente,
Torna-te parte carnal da terra e das coisas!
Dispersa-te, sistema físico-químico
De células noturnamente conscientes
Pela noturna consciência da inconsciência dos corpos,
Pelo grande cobertor não-cobrindo-nada das aparências,
Pela relva e a erva da proliferação dos seres,
Pela névoa atômica das coisas,
Pelas paredes turbihonantes Do vácuo dinâmico do mundo...

Álvaro de Campos



Vou estar fora mais uns dias... deixo-vos com um poema que marcou uma fase da minha vida, e que redescobri... Acho-o maravilhosamente real, deixa-me sempre com um amargo na boca, uma sensação de remorso, de vazio... o vazio de quem parte, e infelizmente não regressa.

PS - Eu regresso, lá para dia 11 estou de volta ;)


domingo, agosto 28, 2005

Além Tejo

E a viagem começou assim... um olhar sobre algo que me disse que estava no sítio certo.

O comité de boas vindas...


... uma visão do oásis...

... outra do silêncio, e do sossego...

... o vasto...

... o belo...
... e a despedida.

No regresso, tive alucinações, em que as luzes me dedicavam melodias...

... e me escreviam cartas de amor.

=) Foram poucos dias, mas o Alentejo recebeu-me de braços abertos, como sempre. Pude voltar a descansar, e brincar, e viver intensamente cada momento de paz. Trouxe comigo a poesia de uma vida tão diferente da minha, mas que começo a aprender a amar.

A morte, pela hipótese de sobreviver...

Em pleno Alentejo, ter uma piscina (ou lago, ou um tigela com água que seja), e deixa-lo descoberto por uma noite, significa que no dia seguinte se encontra uma espectaculo devastador de insectos que ali foram à procura de um gole de água, e para isso deixaram lá a sua vida. Mas vendo estes, imagino quantos mais não terão sobrevivido...

Não será a nossa vida também isto? Não temos nós alturas, em que temos mesmo que mergulhar numa piscina, sem sabermos sequer nadar, porque se ficarmos cá fora desidratamos, ou queimamo-nos irreparavelmente?...

terça-feira, agosto 23, 2005

ịňşỚņĭẳ

O que é que tu fazes quando não consegues dormir?

Qual é o remédio para conseguires obter o que hoje me parece ser o único remédio para esta agonia? Usei a táctica da música, e não resultou… vi filmes para rir, chatos, românticos, e… nada! Quer dizer, uma grande dose de vazio dentro da minha cabeça.

Dúvidas, flashes de dias que nunca deviam ter existido, incertezas de um futuro que já devia ter chegado, ou que talvez não devesse chegar nunca… paranóias das horas que passam sem que os olhos se fechem.

O sol subiu, e eu sem dormir. E não choro, porque chorar seria admitir que algo está errado… seria vitimizar-me, recusar-me a assumir os meus erros, dar a entender que era um outro alguém que estava errado. E não, não é nada disso. Eu quero apenas que me deixem ir, não me condenem. Os erros foram causados pelas noites que ficaram por dormir, não teria coragem de rasgar a minha folha de papel para não escrever nela mais palavras ignorantes… sendo que essa folha de papel, é apenas a última página de um capítulo deste livro que é a minha vida… não, não a iria rasgar. Vão haver mais uns capítulos, mais umas páginas, parágrafos, pontos, vírgulas… erros ortográficos, riscos, rabiscos. Vai haver tudo isso e não mais serei um borrão de tinta em capítulos de livros em que não me querem… ou em que eu não me quero. Saio sem que seja preciso mandarem-me embora com um mata-borrão. No teu livro, ficarei para sempre escondida, se mo permitires. Serei aquelas reticências, que seguem o “Era uma vez” do dia em que descobrires que és feliz.

O que é que tu fizeste para voltares a dormir?

Porque eu dormia sem ter sono, e hoje, mesmo depois de ultrapassar todas as barreiras de um cansaço inexplicável, não há sono que permaneça… nem há sonhos… nem há nada…

Umas asas que ninguém vê, feridas por facas que não existem. Dores fingidas lágrimas forçadas… mentiras, só mentiras e fingimentos para que tenhas pena… se tu ao menos soubesses, que as asas me foram arrancadas a sangue frio, por um cão raivoso, que as facas eram dentes, que morderam, e morderam, e rasgaram-me a carne em farrapos tão pequenos, que ninguém os vê. E as dores, doeram tanto, que o corpo entrou em colapso e deixou de sentir, e as lágrimas uniram-se, e formaram aquele rio, que corre algures escondido no meio da floresta.

E tu, que nunca irás ler isto, nunca irás ter pena, porque para ti, eu direi sempre que está tudo bem, e é a ti, que eu pergunto o que fazer quando não consigo adormecer, que eu apresento a solução para me ajudares a dormir… é aquele pedido que eu nunca te vou fazer, porque as noites escuras, passadas em branco, ainda me deixam o discernimento para saber que é melhor assim… hoje, hoje peço-te, o que nunca te vou pedir…

Contas-me uma história, e ajudas-me a dormir?

23/08/2005

sexta-feira, agosto 19, 2005

Tinta Preta


Hoje fui lá fora e a noite recebeu-me gelada, quase tão gelada como as minhas mãos, essas mesmas mãos que abraçam a caneta que deixa a tinta preta escorrer pelo papel, preta como a noite, e as estrelas são os espaços brancos por entre as letras e palavras… que poema escreves tu noite? Parei um pouco para te ouvir, é tão belo o que contas.
És gelada e as pessoas fogem de ti por seres assim, não te encontram a beleza escondida, mas tu só és gelada porque ninguém te dá um abraço quente! Como as minhas mãos, frias por ninguém as aquecer. Eu abraço-te noite, com as minhas incertezas, com as mesmas mãos frias que abraçam a caneta de tinta preta, com os meus olhos marejados de lágrimas não choradas, a minha alma inocente, os meus pensamentos que vão voando… abraço-te com força, com determinação, com carinho e sem medo.
As pessoas temem-te porque és escura, misteriosa, porque nunca sabem o que se esconde nas tuas sombras, pois é isso que eu amo em ti, o nunca saber o que esperar, o seres diferente, o não permitires que a luz te mude, nem te afaste, nem te aqueça…
Não serás tu apenas um borrão de tinta negra deixado cair numa folha de papel de seda? Não serão as estrelas apenas salpicos de sal das lágrimas caídas sobre esse mesmo papel? Que carta de amor foste tu arruinar? Não serei eu apenas uma das letras escondidas por baixo dessa mancha de tinta negra? Eram belas as palavras? Diz-me noite, és tinta preta que escorre suavemente? É por isso que me vais cobrindo a alma de luto cada vez que te abraço? É por isso que me gelas o coração?
Perdoa-me noite, amo-te mesmo assim, sejas tinta preta, ou um xaile negro do luto pela morte do dia, sejas o que fores, por quem fores…
(31/01/2005)

terça-feira, agosto 16, 2005

De volta!

Estive no Alentejo (Elvas e Reguengos...) e vou voltar mais uns dias! Não resisto, a paz está escondida naqueles montes amarelos, naquelas estradas vazias de gente, naquelas pessoas verdadeiras, no tempo que caminha em vez de correr, no céu com mais estrelas, no horizonte mais vasto...

As férias fazem disto às pessoas.

Divirtam-se muito, descansem muito, leiam, escrevam, amem... digam disparates, riam-se, sejam doidos(as), a felicidade absoluta não existe, mas se vivermos tudo intensamente, chegamos lá perto...

E eu, não bebi, nem fumei, nem me injectei com nada. Não me apaixonei de novo, não vi um passarinho verde, não ganhei na lotaria, nem sequer recebi presentes ou elogios. Não aconteceu nada do outro mundo, mas vi um pôr-do-sol, e olhei as estrelas por horas. Tive tempo para brincar com um cachorro, apanhei sol, nadei até me cansar, tratei de papeis importantes, tagarelei, falei de coisas sérias, vi filmes, dormi muito... e ainda sobrou tempo... tudo isto em 2 dias.

O Alentejo, é sem sombra de dúvidas o único sitio que eu conheço, em que o tempo passa à velocidade correcta.

quarta-feira, agosto 10, 2005

O bater das asas...

Há tanta gente a voar à minha volta...
Uns vão e prometem voltar em breve, outros não prometem nada, voam apenas.
Eu vou só esvoaçar. Uns dias em Elvas... mas volto... volto sempre.
Espero fazê-lo com alma renovada, espirito solto, palavras alegres, olhos brilhantes...

Até lá...

Um beijo
Drops

domingo, agosto 07, 2005

Pelos caminhos da alma

Estava tudo em silêncio, o tempo caminhava calmamente pelas horas e eu, serena, pensava, sonhava acordada, imaginava mil histórias que logo largava ao vento para ele as sussurrar a quem as quisesse ouvir.

Saí, e comecei a caminhar na rua deserta, com o tempo a meu lado. Conversámos os dois, confessámos mágoas e tristezas, partilhámos sonhos e alegrias, rimo-nos de absurdos inconfessáveis, e chorámos lágrimas sentidas.

Percorremos todos os caminhos da alma e do silêncio, sem nunca pararmos, caminhamos lado a lado, de mãos dadas, amigos, companheiros, cúmplices. Fomos amantes platónicos por uma noite, mas o sol nasceu, e o tempo desatou a correr, num ritmo frenético…e eu continuei o meu caminho, passo calmo, confiante.

Logo irás voltar, quando as estrelas ofuscarem o brilho do sol, e o silêncio embalar a lua, serás meu novamente, e juntos voltaremos a percorrer os caminhos da alma.

16/06/2005

sexta-feira, agosto 05, 2005

Boss AC - Que Deus

"Há perguntas que têm de ser feitas! 
 
Quem quer que sejas
Onde quer que estejas
Diz-me se...
É este o mundo que desejas!?
 
Homens rezam, acreditam,
Morrem por ti!
Dizem que estás em todo o lado
Mas não sei se já te vi!
 
Vejo tanta dor no mundo
Pergunto-me se existes!?
Onde está a tua alegria
Neste mundo d'homens tristes!?
 
Se ensinas o bem
Porque é que somos maus por natureza!?
Se tudo podes
Porque é que não vejo comida à minha mesa?
 
Perdoa-me as dúvidas
Tenho de perguntar
Se sou teu filho e tu me amas
Porque é que me fazes chorar?
 
Ninguém tem a verdade
O que sabemos são palpites
Sangue é derramado em teu nome
É porque o permites
 
Se me deste olhos
Porque é que não vejo nada?!
Se sou feito à tua imagem
Porque é que eu durmo na calçada!?
 
Será que pedir a paz entre os homens
É pedir demais!?
Porque é que sou descriminado
Se somos todos iguais!?
 
Porquê!?
Porque é que os Homens se comportam como irracionais?!
Porque é que guerras, doenças matam cada vez mais?!
Porque é que a paz não passa de ilusão?!
Como pode o Homem amar com armas na mão?!
Porquê!?
Peço perdão pelas perguntas que têm que ser feitas
E se escolher o meu caminho será que me aceitas?!
Quem és tu? Onde estás? O que fazes? Não sei!
Eu acredito é na Paz e no Amor!
 
Por favor não deixes o mal
Entrar no meu coração
Dou por mim a chamar
O teu nome em horas d'aflição
 
Mas... Tens tantos nomes!
És rei de tantos tronos!
Se o Homem nasce livre
Porque é que alguns são donos?!
 
Quem inventou o ódio?!
Quem foi que inventou a guerra?!
Às vezes acho que o inferno
É um lugar aqui na Terra!
 
Não deixes crianças
Sofrer pelos adultos
Os pecados são os mesmos
O que muda são os cultos
 
Dizem que ensinaste o Homem
A fazer o bem
Mas no livro que escreveste
Cada um só lê o que lhe convém
 
Passo noites em branco
Quase sem dormir a pensar
Tantas perguntas
Tanta coisa por explicar
 
Interrogo-me
Penso no destino que me deste
E tudo o que me acontece
É porque tu assim quiseste
 
Porque é que me pões de luto
E me levas quem eu amo?!
Será que é essa a justiça
Pela tal eu tanto clamo?!
 
Será que só percebemos
Quando chegar a nossa altura!?
Se calhar desse lado
Está a felicidade mais pura!
 
Mas se nada fiz
Nada tenho a temer
A morte não me assusta
O que assusta é a forma de morrer!!
 
Porquê!?
Porque é que os Homens se comportam como irracionais?!
Porque é que guerras, doenças matam cada vez mais?!
Porque é que a paz não passa de ilusão?!
Como pode o Homem amar com armas na mão?!
Porquê!?
Peço perdão pelas perguntas que têm que ser feitas
E se escolher o meu caminho será que me aceitas?!
Quem és tu? Onde estás? O que fazes? Não sei!
Eu acredito é na Paz e no Amor!
 
Quanto mais tento aprender
Mais sei que nada sei
Quanto mais chamo o teu nome
Menos entendo o que chamei
 
Por mais respostas que tenha
A dúvida é maior
Quero aprender com os meus defeitos
Acordar um homem melhor
 
Respeito o meu próximo
Para que ele me respeite a mim
Penso na origem de tudo
E penso como será o fim!
 
A morte é o fim
Ou é um novo amanhecer?!
Se é começar outra vez
Então já posso morrer!
 
(Teresa Salgueiro)
Ao largo ainda arde
A barca da fantasia
O meu sonho acaba tarde
Acordar é que eu não queria!
________________________________

Não é exactamente o meu estilo de música, mas descubro sempre uma ou outra cuja letra me leva mesmo a ouvi-las...
Não acredito nesse Deus de que tanto oiço falar, mas acredito que a humanidade podia ser bem melhor se todos seguissem o conselhos "dele"...

quarta-feira, agosto 03, 2005

.........................

Apetecia-me dizer-te "Adeus", e que tu acreditasses que era para sempre, só para saber se ias ter saudades...

terça-feira, agosto 02, 2005

Sofro, logo existo?!...

Sabes aqueles dias? Aqueles que te sorvem a alma de um só trago, e não deixam nem uma gota para tu manteres um sorriso de fachada? Sabes, claro que sabes... só não sabes que os meus dias são agora todos assim. Esta guerra branca, de palavras que ferem por nunca serem ditas. As minhas são amargas... furam-me por dentro, como punhais mal afiados, com lâminas ferrugentas que causam dores agudas. E sabes que não são para ti? E sorrio... já não és tu que me magoas, queria muito conseguir dizer-te isto. Que te amo como nunca, porque continuo cega, e acho-te perfeito, e amo cada defeito que te encontro, porque eles fazem de ti humano. Mas sofro por dentro, por minha culpa claro, sinto-me egoísta, mas não consigo deixar de estar assim.
Sei que amanhã o dia vai nascer cheio de sol, e que eu vou continuar triste, e que não to vou dizer, como não mais te direi o quanto te amo. Como nunca mais saberás como me magoam os teus carinhos infindos.
Dói agora a dor de saber que amanhã vai chegar, porque se amanhã não chegasse... a ideia de que nunca serás meu permanece, e assim, "nunca" seriam apenas umas horas, só mais umas horas, em que eu podia estar contigo, ia sentir o teu cheiro, ia ouvir a tua voz mais uma vez, olhar fundo nos teus olhos e deixar-me chorar no teu abraço, sem me explicar! Era assim que eu queria que tudo acabasse, os meus sentidos todos envolvidos por ti. Dava-te o beijo que tanto desejei roubar. Entregava-to para ele se juntar à minha alma que anda sempre contigo... Estou a divagar de novo. Porque amanhã vai chegar, e isso vai doer, tanto como doeu hoje.
É por isso que me custa adormecer à noite, enquanto estou acordada, o tempo demora mais a passar... e é por isso que me custa acordar de manhã, o acto de abrir os olhos diz-me que o dia chegou... mais um, de dúvidas e incertezas, de gritos dados para dentro, a tua ausência...
Mas o meu coração é teimoso, insiste em bater, mais fraco nos dias como hoje, mais forte nos dias como ontem... ontem... Que aconteceu ontem? Que arma usaste para deitar a baixo a minha barreira invisível? Era perfeita, impenetrável. Foi a tua força? Ou terá sido a minha fraqueza?
E hoje estou assim. Morri, afogada em dias que insistem em continuar a chegar, mas continuo viva! Sempre viva… Sem sombra de dúvidas… VIVA, porque cada dia que chega, dói um bocadinho mais que o anterior. Às vezes acalmo, e quase acredito que finalmente morri, mas logo chega mais um dia para me lembrar que não é assim tão fácil.

30/07/2005


"And love Is blind, and that I knew when my heart was blinded by you..."